Encontra no Finst

Desabafo de um Finster (André Sanches) - "Com a minha cobardia eu te dobro"

Hoje aproveito para chamar atenção para mais um dia que deviam ser todos. "Dia mundial para a eliminação da violência contra as mulheres"

Um dia que infelizmente ainda tem significado, e que se mostra cada vez que a violência entre casais, no local de emprego, nas ruas é uma constante e não um reflexo de antigamente. Mesmo entre a vergonha e a indiferença da sociedade, estes casos acontecem também no sentido do homem e entre casais do mesmo sexo.


“Eu não te magoo por querer, apenas te amo.
“A culpa não é sua, apenas me ama.

As lágrimas que soltas são ferros em mim…
Ele mostra-se arrependido quando eu choro o seu nome…

Diz-me, porque mereces?
Eu mereço o que me faz!

Diz-me, porque tenho de te magoar?
É sua obrigação, fazer-me ver o meu lugar.

Se eu te amo porque ages assim, com medo de mim?
Eu vivo aterrorizada, mas não posso largar o homem que me ama.

Chego e não cumpres a tua obrigação de mulher…
Sou incompetente, não cumpro o meu dever de mulher e esposa.

Não me dás o teu corpo como eu quero
Não sei ser a mulher que ele quer na cama, onde falho eu?

E não me vês como desejo.
Tenho nojo e repugnância, mas é ele quem me sustenta.

Porque tens tu de não ser a minha exigência?
Falho constantemente com o meu dever, ele tem razão.

E porque tens tu de só aprender à força?
Eu nunca aprendo e tiro-o do sério.

Cada marca e cada gesto são apenas o reflexo do meu amor.
Ele apenas me faz isto porque me ama e me quer só para ele.

Sinto vergonha de te fazer isto mas tens de aprender como te quero.
Ele apenas me quer fazer a sua mulher perfeita.

Se sou eu que mando porque desobedeces?
Sou leviana e sem modos, não lhe sei obedecer como devo.

Porque olhas para os outros? Não te chego?
Eu não tenho respeito e mereço o que me fazes, sou uma desenvergonhada, desculpa!

Porque me fazes sentir culpado com o teu choro e o desespero da tua voz?
Ele ama-me! Fica destroçado quando me bate e desculpa-se com gestos meigos.

Bater-te-ei enquanto fores minha e matar-te-ei para não seres de mais ninguém.”
Até que a morte nos separe…”

Todos estamos seguros e convictos de que a sociedade evoluiu e se tornou em algo melhor. Mas nem tudo é assim tão certo...

As frases que escrevi acima são o dia a dia de muitas mulheres do nosso país e do nosso mundo. Mulheres que vivem um vida de sufoco e de medo, atormentadas por uma figura que outrora amaram, ou lhes foi impingida, obrigada. Mulheres que devem ter o direito a sonhar e à própria vontade.

Muitas da vítimas acham o que acontece normal e sentem que é sua a culpa da forma como o animal se comporta. Quando realmente percebem que não é normal ou que não é aquilo que desejam para a sua vida ou a dos seus filhos, recorrem aos meios judiciais para resolver a sua situação ou simplesmente esperam pelo "até que a morte nos separe..."

O meu coração parte-se! E sofro ao saber que existe um ser humano no mundo que possa passar por tudo isto... Ninguém tem o direito de magoar física ou psicologicamente outro, principalmente depois de dizer "Eu amo-te e proteger-te-ei para toda a vida". Assim como ninguém tem o direito de privar a liberdade ou o direito à integridade de outro ser.

O casamento é a união do sonho com a realidade e o assinar de uma declaração para a vida. Eu não falo de papéis, nas sim de sentimentos que se fundem e dão lugar a um vinculo de união e amor, nunca de sofrimento e opressão. E se o sentimento tiver lugar que seja na hora do "e que a morte nos separe", que deve ser um fim último e inevitável e nunca um desejo negro e frio de escapar a uma vida que cor.

Hoje um dos maiores problemas é que o "casei contigo agora és minha e fazes o que eu mandar" se antecipa e muitos dos casos de violência começa logo no namoro.. e infelizmente a aceitação continua a ser frequente e paralela a um amor falso e arrependimento nojento.

O "entre marido e mulher não se mete a colher" já não se usa e não tem, ou melhor nunca teve, lógica! Deixo aqui o meu apelo a que sejam denunciados estes casos e que lute pela liberdade de quem a merece por direito. É um direito que tem como raiz o nascimento e o simples conceito de ser e existir. Porque se "penso, logo existo" e o pensamento é a mais livre das liberdades então a existência também deve de sê-lo.

Finster Sanches
Finst, factor agora!

1 comentário:

  1. É importante registar que a violência doméstica é um crime público e por essa razão pode e deve ser denunciado por qualquer um que assista ou tenha conhecimento de situações de violência doméstica. Esta violência pode passar-se entre marido e mulher, mas também pode acontecer entre a mãe e os filhos ou o pai e os filhos. Em qualquer das situações deve ser denunciado junto duma esquadra da polícia.

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